Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Memórias de um Futuro Radioso

Nas vésperas de se assinalar meio século de liberdade e democracia em Portugal, momento cimeiro da memória coletiva e identidade nacional entreaberto pela Revolução de 25 de Abril de 1974, o realizador José Vieira, reconhecido cineasta da emigração portuguesa, lançou o seu primeiro livro Souvenirs d’un Futur Radieux (“Memórias de um Futuro Radioso”). Capa do livro “Memórias de um Futuro Radioso”
Natural de Oliveira de Frades, uma vila da Beira Alta situada no distrito de Viseu, José Vieira partiu para França em 1965, com sete anos de idade. A sua experiência pessoal como emigrante e as muitas histórias compartilhadas com outros emigrantes em terras gaulesas, inspiraram assertivamente o percurso profissional do realizador que vive e trabalha entre Portugal e França. Licenciado em Sociologia, José Vieira fez do documentário “uma forma de militância”, porquanto se apercebeu de que a maioria das pessoas “não conheciam a história da emigração portuguesa”, como afirmou em 2016 no decurso de uma entrevista à agência Lusa. Desde a década de 1980, o cineasta lusodescendente realizou uma trintena de documentários, nomeadamente para a France 2, France 3, La Cinquième e Arte, onde tem abordado sobretudo a problemática da emigração portuguesa para França. Em particular a viagem “a salto”, ou seja, o trajeto clandestino para deixar Portugal rumo a França nos anos 60 e 70, e as condições de vida miseráveis de muitos compatriotas que nessa época habitaram nos "bidonvilles” (bairros de lata) em Paris. No rol das suas películas dedicadas à emigração portuguesa destacam-se, por exemplo, “A fotografia rasgada” (2002), onde José Vieira retrata o código da fotografia rasgada do “passador”, que guardava metade da fotografia de quem emigrava e a outra levava-a o emigrante que, uma vez chegado ao destino, a remetia à família, em sinal de que chegara bem e que poderia ser concluído o pagamento pela sua “passagem”. Os documentários “O país aonde nunca se regressa” (2005), “Le bateau en carton” (2010) e “A ilha dos ausentes” (2016), que de certo modo descrevem a sua própria experiência de emigrante, são igualmente parte integrante do valioso trabalho cinematográfico de José Vieira sobre os protagonistas anónimos da história portuguesa que lutaram além-fronteiras por uma vida melhor. Num dos seus trabalhos cinematográficos mais recentes, o filme “Nós Viemos” (2021), José Vieira traça ainda um retrato sobre os emigrantes do passado e do presente, com o intuito segundo o mesmo de “perceber o que há em comum entre estas pessoas”. A estreia agora no campo das letras, com a chancela da editora francesa Chandeigne, prossegue a militância ativa no resgate da memória da epopeia da emigração portuguesa para França nos anos 60. Na esteira do documentário que realizou em 2015, “Souvenirs d’un futur radieux”, onde cruza as memórias dos emigrantes portugueses que viveram durante os anos 60 no bairro de lata de Massy, nos arredores de Paris, onde ele próprio viveu durante cinco anos na infância, com as vivências das vagas migratórias contemporâneas de África e do Médio Oriente, José Vieira fixa na sua estreia literária os sonhos, as humilhações, os medos e as injustiças dos portugueses que demandaram melhores condições de vida na pátria gaulesa. Prosseguindo o esforço de dar voz ao silêncio dos da emigração “a salto” para França nos anos 60, que o cineasta escritor designa como “o maior êxodo e o mais brutal que Portugal alguma vez conheceu ao longo da sua história”, o ativismo cultural de José Vieira recorda-nos a máxima de Miguel de Cervantes, “a história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”.

sábado, 13 de abril de 2024

Memórias da ditadura portuguesa revisitadas em livro

Na passada sexta-feira (12 de abril), foi apresentado em Lisboa o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na Associação 25 de Abril.
Mesa da sessão de apresentação do livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” (Da esq. para dir.: o historiador Daniel Bastos, acompanhado do fotógrafo engajado Fernando Mariano Cardeira, do militar e antigo presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques, e do tradutor Paulo Teixeira) – ©Marques Valentim A sessão de apresentação, que encheu o auditório da Associação 25 de Abril, esteve a cargo do militar, antigo exilado político e presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques, que enalteceu o percurso de vida de Fernando Mariano Cardeira na defesa dos ideais da liberdade e da democracia. Segundo o mesmo, o livro dado agora à estampa, no ano em que se assinala meio século da Revolução dos Cravos, assume-se como um importante contributo e testemunho histórico para se conhecer o país como era há 50 anos. Refira-se que nesta nova obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira e prefácio do investigador José Pacheco Pereira, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, o percurso do historiador Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio das comunidades portuguesas. Fernando Mariano Cardeira nasceu em 1943, depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio, o antigo oposicionista regressou a Portugal após a Revolução dos Cravos, presidindo à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM. Saliente-se que a edição do livro se deve em grande parte ao mecenato de empresas que partilham uma visão de responsabilidade social e um papel de apoio à cultura, sendo que ao longo do ano estão previstas várias sessões de apresentação da obra noutros espaços do território nacional e da Diáspora.
Créditos fotográficos - Marques Valentim - Fotografia

sábado, 6 de abril de 2024

Fundação António Amaral: valorização e promoção da língua portuguesa na Flórida

Entre as características mais distintas da diáspo¬ra, a enorme capacidade empreendedora e o seu forte espírito de solida¬riedade, são seguramente das que mais sobressaem no código genético das comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Ao longo das décadas têm sido inúmeras as campanhas solidárias, as iniciativas de apoio e os gestos de altruísmo protagonizados, a título individual ou coletivo, pelos por¬tugueses no estrangeiro em prol de causas, valores e pessoas, muitas delas concidadãos que por vicissitudes da vida encontram na generosidade de muitos compatriotas uma bússola e um porto de abrigo. Um desses exemplos de espírito so¬lidário é o que no decurso dos últimos anos vários empresários portugueses da diáspora têm protagonizado ao nível da atribuição de bolsas de estudo a alunos lusodescendentes. Trata-se de uma ação benemérita que tem tido um papel essencial não só na promo¬ção da cultura e língua portuguesa no mundo, como também na capacitação e valorização das comunidades portu¬guesas, e na dinamização da partici¬pação de jovens lusodescendentes no pulsar do movimento associativo. Um dos exemplos paradigmáticos da dimensão e importância do apoio dos empresários da diáspora a alunos lusodescendentes é o que tem sido dinamizado desde a primeira década do séc. XXI pela Fundação António Amaral, em Palm Coast, cidade locali¬zada no estado da Flórida, nos Estados Unidos da América. Radicado há mais de meio século na América, o empresário no sector da construção e imobiliário Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, instituiu em 2006 a Fundação António Amaral com a missão de atribuir bolsas de estudo a jovens de origem portuguesa na Flórida. Há 18 anos consecutivos que a Fundação António Amaral, através do espírito empreendedor e ação so¬lidária do emigrante natural de Ovar, entrega bolsas de estudo a alunos lusodescendentes na Flórida, tendo até ao momento, distribuído 250 bol¬sas, no montante superior a 415 mil dólares. Ainda no ocaso do mês passado, a Fundação Antó¬nio Amaral atribuiu no decurso de um encontro-convívio que juntou meio milhar de luso-americanos, e que computou, entre outros, com a presença do Presidente da Câmara de Palm Coast, David Alfin, e do xerife do condado de Flagler, Rick Staly, onze bolsas de estudo a alunos de origem portuguesa na Flórida, num total de 29 mil dólares. Uma missão e valores que perpassam outras áreas em prol da comunidade luso-americana, porquanto a Fundação Antó¬nio Amaral tem apoiado ao longo dos anos, com milhares de dólares, diversas instituições na Flórida e em Portugal, assim como agregados carenciados que têm tido na generosidade da família Amaral uma bússola e um porto de abrigo. Ainda no âmbito da iniciativa do mês transato, a Fundação António Amaral ofereceu duas bolsas de 500 dólares a dois liceus de Palm Coast, o Florida Palm Coast High School e o Matanzas High School. Este exemplo paradigmático da dimensão e importância do apoio dos empresários da diáspora a alunos lu¬sodescendentes, e outros que possam estar atualmente a ser dinamizados no seio das comunidades portugue¬sas, relembra-nos a frase lapidar do filósofo Friedrich Schiller: “A língua é o espelho de uma nação”.

sábado, 30 de março de 2024

Orlando Pompeu inaugurou exposição na Suíça

No passado dia 28 de março, o mestre-pintor Orlando Pompeu, detentor de uma obra que está representada em variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Dubai e Japão, inaugurou uma nova exposição individual no território helvético. Neste regresso à Suíça, país da Europa Central onde o artista plástico nos últimos anos tem várias realizado mostras artísticas coroadas com sucesso, Orlando Pompeu inaugurou na Galeria 111, uma galeria de arte na cidade de Zurique, uma exposição intitulada “Contextos Gestuais”.
O mestre-pintor Orlando Pompeu (ao centro) ladeado de colecionadores e admiradores na Galeria 111 em Zurique Os muitos colecionadores e admiradores que marcaram presença na vernissage do conceituado mestre-pintor tiveram oportunidade de conhecer um conjunto significativo pinturas de aguarelas, reveladoras da singular criatividade e talento de um dos mais conceituados artistas plásticos portugueses da atualidade. Refira-se que esta nova exposição de Orlando Pompeu, que em 2022 foi distinguido com a Medalha de Bronze da Academia Francesa das Artes, Ciências e Letras, estará patente até ao dia 9 de abril, na Galeria 111 em Zurique.

sábado, 23 de março de 2024

Livro resgata memórias da sociedade, emigração e resistência na ditadura

No próximo dia 12 de abril (sexta-feira), é apresentada em Lisboa a obra “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. O livro, concebido pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, é apresentado às 18h00 na Associação 25 de Abril.
O antigo militar e oposicionista Fernando Mariano Cardeira (ao centro), ladeado do historiador Daniel Bastos (dir.), e do tradutor Paulo Teixeira, no Centro Português de Fotografia (CPF), instituição pública a quem o fotógrafo engajado doou em 2022 o espólio que integra o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A apresentação da obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira, e prefácio do historiador e investigador José Pacheco Pereira, estará a cargo do militar, antigo exilado político e presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques. Neste novo livro, realizado com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, estrutura nacional que tem como missão definir e concretizar o programa de celebração de meio século de liberdade e democracia em Portugal, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. No ano em que se assinala meio século de liberdade e democracia em Portugal, e numa época em que mais de metade da população portuguesa nasceu já depois da Revolução de Abril, a publicação desta obra constitui uma oportunidade simbólica de revisitar o país como era há 50 anos. Um dever de memória e um exercício de cidadania no fortalecimento da democracia através da importância da história para inquirir o passado, pensar o presente e projetar o futuro. Segundo José Pacheco Pereira, historiador e investigador que assina o prefácio da obra, “tudo o que constituía contexto dos anos finais da ditadura está presente neste livro, o país pobre, miserável e injusto onde, desde a mortalidade infantil à nascença, ao analfabetismo, aos bairros da lata, à insegurança de viver em sítios errados quando havia um desastre como as cheias de 1967, que matou “naturalmente” os mais pobres e deixou incólumes os mais ricos, mesmo quando viviam em locais onde choveu mais, o movimento estudantil que tinha tirado as universidades ao controlo de regime, o movimento operário reprimido nos seus mínimos direitos, a condição das mulheres vítimas de todas as violências que a censura proibia de contar, já para não falar da repressão, das prisões, da tortura, e, por fim, da guerra colonial”. Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto estreito com as comunidades portuguesas, o percurso do historiador e escritor Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio da Diáspora. Fernando Mariano Cardeira nasceu em 1943, depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960-70, o antigo oposicionista regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974. Foi um dos fundadores da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61/74), e presidiu à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM.

sexta-feira, 22 de março de 2024

POSSO: uma associação de referência ao serviço da comunidade luso-americana em São José

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos nacionais, destaca-se atualmente pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados em Massachusetts, Rhode Island, Nova Jérsia e Califórnia. É neste último estado, que vive e trabalha a maior comunidade luso-americana do país, constituída por mais de 300 mil pessoas, e cuja presença histórica no oeste dos EUA remonta à centúria oitocentista, aquando da corrida ao ouro, da dinamização da pesca da baleia e do atum, e mais tarde das atividades ligadas à agropecuária. A secular presença portuguesa na Califórnia, que se manifesta hoje na existência de diversas associações, clubes, estruturas religiosas, organizações e núcleos museológicos, tem ao nível do meio associativo na Portuguese Organization for Social Services and Opportunities (POSSO), uma associação de referência ao serviço da comunidade luso-americana em São José. Estabelecida em 1976, na cidade de São José, a maior concentração urbana portuguesa na Califórnia, e uma das metrópoles mais populosa deste estado americano, a Organização Portuguesa para Serviços e Oportunidades Sociais, tem como objetivo principal melhorar a qualidade de vida e as oportunidades das populações de língua portuguesa. Em funcionamento ao longo de quase meio século, esta relevante instituição de solidariedade sem fins lucrativos constitui-se como uma ponte indispensável no seio da comunidade luso-californiana em São José, desenvolvendo um conjunto relevante de atividades sociais, recreativas, culturais e educacionais. Entre essas atividades, e numa época em que se assiste a um processo de envelhecimento da comunidade portuguesa na América, e de declínio devido à redução substancial da emigração a partir de Portugal, ganham especial relevância as atividades que a POSSO realiza hodiernamente junto dos seniores luso-americanos, vários deles marcados pelo espectro da doença, solidão, ausência de retaguarda familiar e barreira linguística. Mormente, programas de acompanhamento e ao domicílio que auxiliam na prestação de serviços de agendamento, transporte, tradução, interpretação e assistência fiscal. Mas também de bem-estar, nutrição e vida ativa, que passam, por exemplo, pela distribuição de alimentos e confeção de refeições, medição da pressão arterial, exames médicos e oficinas de saúde. Como regista o estudo sociológico, A emigração portuguesa no século XXI, a percentagem dos idosos entre os emigrantes aumentou entre 2001 e 2011, nos EUA, sete pontos percentuais, de 16% para 23%. Relevância essa que é possível graças à generosidade e voluntariado que anima o espírito da comunidade portuguesa em San José, e que permite que a missão, visão e valores da POSSO se estendam para outras comunidades que compõem o mosaico cultural californiano. Uma missão, visão e valores que não olvida a importância da solidariedade e da cultura como base e (re)transformação da comunidade luso-americana, expressa paradigmaticamente na promoção do ensino da língua portuguesa. Contexto que contribui decisivamente para que a POSSO seja um espaço privilegiado de organização de pertenças culturais, comunitárias e de participação, nos quais as pessoas não são meras destinatárias, mas atores intervenientes na defesa dos seus direitos e na promoção de condições de bem-estar social.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Em Torno da Mobilidade

No decurso das últimas décadas o estudo sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto diversificado de atividades e trabalhos que têm dado um importante contributo para o conhecimento da emigração portuguesa. Autora de uma vasta bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações, onde se destacam, entre outros, os livros Sociologia das Migrações (1995), Migrações - Permanência e Diversidade (2009), A Serra e a Cidade - O Triângulo Dourado do Regionalismo (2009) ou Das Migrações às Interculturalidades (2014). E colaboradora habitual de revistas científicas internacionais neste domínio, Maria Beatriz Rocha-Trindade, nascida em Faro, e Doutorada pela Universidade de Paris V (Sorbonne) e Agregada pela Universidade Nova de Lisboa (FCSH), é uma das cientistas sociais que mais tem contribuído para o conhecimento da emigração portuguesa. Professora Catedrática Aposentada na Universidade Aberta, foi responsável pela fundação nos inícios dos anos 90, nesta instituição de ensino superior público, do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI). Um centro pioneiro na área das Migrações e Relações Interculturais, que conta atualmente com mais de meia centena de investigadores, e que tem dinamizado ao longo dos últimos anos uma intensa pesquisa interdisciplinar e formação avançada na área das migrações e das relações interculturais em contexto nacional e internacional. O pioneirismo da insigne académica e investigadora está igualmente expresso na introdução em Portugal do ensino da sociologia das migrações, primeiro na Universidade Católica, no curso de Teologia, em 1994, e dois anos depois, na Universidade Aberta, a nível de licenciatura e de mestrado. Membro de diversas organizações científicas portuguesas e estrangeiras, designadamente da Comissão Científica da Cátedra UNESCO sobre Migrações, da Universidade de Santiago de Compostela, do Museu das Migrações e das Comunidades, criado em 2001 por deliberação do Município de Fafe, e da Comissão Científica do Centro de Estudos de História do Atlântico/CEHA, a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade, coordena presentemente a Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa. O percurso de vida singular e o trabalho académico laborioso da Professora Catedrática Maria Beatriz Rocha-Trindade, Titular da Ordem Nacional do Mérito, de França, com o grau de Cavaleiro, da Medalha de Mérito do Município de Fafe, da Medalha de Ouro do Município do Fundão e da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, de Portugal, estão sublimemente sintetizados nas palavras do geógrafo Jorge Malheiros: “a investigação em migrações em Portugal não seria a mesma coisa sem a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade”. Genuína fonte de inspiração, e com uma capacidade inesgotável de investigação assente num modelo de partilha de conhecimento e de trabalho em rede, a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade presenteou-nos, no início deste ano, com um novo e relevante livro, intitulado Em Torno da Mobilidade – Provérbios, expressões e frases consagradas. A sua obra mais recente, uma publicação bilingue (português e inglês), profusamente ilustrada, com chancela das edições Almaletra, desponta no âmbito de palestras apresentadas nos dezassete colóquios internacionais que tiveram lugar em Tavira sobre o tema dos Provérbios. Sendo constituída por oito capítulos: “Potencialidades simbólicas da imagem no quadro do percurso migratório”; “Nós e os outros. Preconceitos e estereótipos”; “Árvore das patacas – Origem da expressão”; “Migrações portuguesas – a utilização da simbologia tradicional na captação de poupanças”; “Os provérbios na atividade comercial”, “Sonhos de pedra e cal, espaços e tempos” e “Homenagear quem parte”. Como confluem Domingo Gonzalez Lopo, Professor da Universidade de Santigo de Compostela, e Rui Soares, Presidente da Associação Internacional de Paremiologia, prefaciadores do livro, Em Torno da Mobilidade reforça o conhecimento sobre as perspetivas que caracterizam um dos mais importantes fenómenos sociais, presente ao longo de toda a História de Portugal – as migrações. De facto, com o livro Em Torno da Mobilidade – Provérbios, expressões idiomáticas e frases consagradas, descobrimos, aprendemos, ficamos a conhecer porque utilizamos certas palavras, expressões, na linguagem corrente, mas também símbolos e uma cultura que é necessário preservar e divulgar. Expressões como “Árvore das Patacas”, que nos remete para a árvore de origem asiática que foi trazida para o ocidente, e que designa tanto na vertente popular como vertente literária o enriquecimento rápido e sem esforço. Conta-se que o imperador D. Pedro I, por brincadeira, escondia moedas (patacas) nas flores desta árvore de origem asiática no Brasil. Com o tempo as flores fechavam-se, mantendo a moeda dentro do fruto, depois o soberano pegava num desses frutos, abria-o diante de todos, dizendo que no Brasil o dinheiro nascia até em árvores. A utilização desta expressão no contexto migratório de Portugal para o Brasil, identifica simbolicamente a riqueza almejada. Ou símbolos expressivos como “as malas”, que ilustram a capa do livro, e que como refere a autora ao longo dos vários ciclos migratórios “mudaram de configuração e, embora diferentes, continuam a assegurar a ligação simbólica que sempre tiveram com a mobilidade. É o caso paradigmático da “mala de cartão”, símbolo da emigração “a salto” dos anos 60, celebremente cantada por Linda de Suza. Neste sentido, o livro Em Torno da Mobilidade é um novo e relevante contributo para o conhecimento da emigração lusa, destinando-se a educadores, professores, entidades públicas e privadas, em suma, ao público em geral que valoriza e reconhece o papel preponderante da Diáspora na projeção de Portugal no mundo.